Telas pintadas pela cantora acompanham a turnê de lançamento do álbum 'Ensaio de Cores', que faz temporada no Vivo Rio e depois se estende a outras cidades

“Para aliviar a sensação aflitiva do registro das canções em estúdio, eu pintava para ver aquelas canções que só ouvia. De lá pra cá, não parei mais. A pintura elimina involuntariamente os limites que conheço e que invento para a música. Não estou em busca somente da beleza, quero, sobretudo, a comunicabilidade visual”, explica a cantora.
Em dez anos de prática, o estoque já era suficiente para uma exposição, então por que não fazê-la? Na turnê de lançamento do álbum Ensaio de Cores, que faz temporada no Vivo Rio na sexta (29) e no sábado (30), não são apenas as meninas da banda, Délia Fischer, no piano, Gretel Paganini, no violoncelo, e Lanlan, na percussão e bateria, que acompanham Ana Carolina nas apresentações. As telas também entram na bagagem e podem ser conferidas e compradas na parte externa da casa de espetáculo, o chamado “foyer”.
O principal objetivo do projeto, contudo, está ligado a uma ação solidária, em prol da Associação de Diabetes Juvenil (ADJ), entidade localizada em São Paulo e sem fins lucrativos, que recebe parte da renda adquirida com a venda dos quadros.
Aos 16 anos, Ana Carolina descobriu ser diabética, o que a restringiu de comer e fazer muita coisa que gostava. A doença impossibilitou, também, que ela viajasse a Roma para assinar um contrato que daria uma guinada na sua jovem carreira. Mas, ao descobrir que Ana tinha diabetes, o autor do convite, o italiano Máximo Pratesi, desistiu de fechar o negócio. Apesar de frustrada com a atitude preconceituosa, a cantora continuou batalhando em solos nacionais.
Os frutos desse esforço já foram colhidos e até premiados. O último deles, Ensaio de Cores, apesar de novo, já emplacou uma música na dramaturgia brasileira. O hit Problemas foi tema dos personagens Esther (Júlia Lemmertz) e Paulo (Dan Stulbach), na novela Fina Estampa. Outras composições, não menos conhecidas, fomentam o álbum, que traz 16 gravações, com clássicos de sua trajetória musical e releituras de nomes renomados, como Caetano Veloso e Roberto Carlos. Entre os títulos estão Força Estranha, Stereo, Pra Tomar Três, Alguém Me Disse, As Telas e Elas, Carvão, e Raio das Cores, caracterizados em formato acústico e intimista.
Devido ao grande sucesso da turnê, foi possível a gravação do DVD, intitulado Ensaio de Cores Ao Vivo, no ano passado, quando deixou o espaço do Citibank Hall abarrotado de fãs, entre eles, muitos famosos. Antes mesmo de sair nesse formato, o registro do show foi editado em vinil, sendo o primeiro da discografia de Ana Carolina. A recepção calorosa trouxe de volta a cantora aos palcos da Cidade Maravilhosa, onde veio lançar o projeto, no último final de semana, no Vivo Rio.
Ana Carolina e a MPB
Ana Carolina e a MPB
O intervalo de tempo que decretava o fim da bossa nova e o surgimento de um novo estilo musical, a MPB, também marcava a data de nascimento de uma cantora que seria, mais à frente, umas das mais influentes no gênero. Desde os 18 anos, quando iniciou profissionalmente sua carreira musical, ela acumula uma extensa lista de prêmios, como o de Melhor Cantora, Melhor CD, Melhor Música de Novela, Melhor Show, Cantora Revelação, sendo, por muitas vezes, premiada mais de uma vez na categoria.
A consagração no meio artístico não poderia ser diferente. Criada numa família de muitos artistas, Ana tinha, além do dom no sangue, a influência de João Bosco, Chico Buarque, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Nina Simone, Björk, Madonna e Alanis Morissette, com os quais buscava a inspiração para montar o repertório que desfilaria pelos bares de Juiz de Fora, cidade em que nasceu. Entre uma apresentação e outra, começou a compor suas próprias músicas e passou a explorar todo o Estado, onde se apresentou em diversos bares da Zona da Mata em busca do reconhecimento nacional. Mas, até esse feito, Ana Carolina, com apenas 12 anos e uma voz grave e de grande extensão, se fazia amadora no palco improvisado dentro do salão de beleza que sua mãe era proprietária, onde já demonstrava profunda intimidade com a música ao entoar versos de Caetano. Junto ao vocal de qualidade, a artista agregou o pandeiro, o baixo, a guitarra, o piano e o violão, este último aprendeu a tocar sozinha, buscando a união de diversos gêneros, que vão da bossa nova ao tango eletrônico.
Quando comemorou 10 anos de carreira, em 2009, a cantora registrava uma marca de cinco milhões de CDs e DVDs vendidos, que englobam Ana Carolina, o primeiro deles, Ana Rita Joana Iracema e Carolina, seguido por Estampado, com um estilo mais voltado para o rock, Perfil – Ana Carolina, Ana & Jorge, uma parceria de sucesso com o cantor Seu Jorge, Dois Quartos, Multishow ao Vivo: Dois Quartos, com releituras do álbum anterior, e N9ve, produzido especialmente para comemorar uma década de estrada.
O mais novo deles, Ensaio de Cores, ainda está sendo apresentado para o Brasil e traz as mesmas expectativas dos trabalhos anteriores, que a garantiu a capacidade de transformar o minúsculo salão de beleza de sua mãe em grandiosas e bem prestigiadas casas de shows.
Serviço: O Vivo Rio fica na Av. Infante Dom Henrique, 85, Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro. Preço: R$ 30 a R$ 180. Mais informações pelo telefone 2272-2919.
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