Em casa e com a torcida a favor

O retrospecto é ótimo: 28 anos, 550 mil cópias vendidas de seus dois primeiros CDs, disco de ouro para o terceiro, "Estampado", e um DVD prontinho para sair do forno, recheado de participações especiais. É neste clima de "já ganhou" que a cantora Ana Carolina se apresenta hoje em Juiz de Fora, no show que abre a turnê batizada com o nome de seu mais recente trabalho, lançado em agosto.
"Estampado" é o disco mais intimista da cantora, que assina 13 das 15 faixas do álbum. É também o mais maduro e o mais elogiado pela crítica, que parou de compará-la a Cássia Eller. O repertório é uma mistura de ritmos, formatos e estruturas, e vai do samba-rock à bossa nova, passando até pelo tango.

O forte, desta vez, são as parcerias: além do sempre presente Totonho Villeroy, craques do porte de Chico César, Seu Jorge, Celso Fonseca e Vítor Ramil também deixam sua marca. Na produção, os cariocas Liminha e Eumir Deodato. "A Ana possui energia de roqueira com a busca pela harmonia da MPB", definiu o primeiro.

Radicada no Rio há quatro anos, Ana Carolina está de volta à cidade em que nasceu para entoar letras de tom confessional, como "Só fala em mim", "Encostar na tua", "Eu tô sozinha", "É mágoa" e "Elevador (livro de cabeceira)", primeiro single retirado do novo CD. A cantora saiu de Juiz de Fora em 1999, quando gravou o hit "Garganta", que também será interpretado hoje, mas com um arranjo um pouco diferente; assim como outro sucesso, "Quem de nós dois". A base do show será o tradicional voz e violão, com banda de apoio e quarteto de cordas. A apresentação - a primeira de uma maratona que só deve terminar perto do Natal - está marcada para as 21h, no Theatro Central.

DVD fresquinho e música para Bethânia

Ana Carolina vai aproveitar o show em Juiz de Fora para lançar o DVD "Estampado", descrito por ela como "um making of do disco, com participações especialíssimas". Morando no Rio, Ana fez contatos e colecionou admiradores do porte de Chico Buarque, Maria Bethânia e João Bosco, que dão as caras no DVD. Bethânia chegou até a gravar uma música da cantora e compositora mineira: "Pra rua me levar" foi escrita especialmente para a irmã de Caetano, em parceria com Totonho Villeroy, e está no CD "Maricotinha". Em "Estampado", o álbum, Ana faz a sua versão da música. "A música continua sendo da Bethânia, mas acredito que consegui dar a minha cara também", diz ela.

Outra pérola do DVD é um show improvisado da cantora em pleno centro da Cidade Maravilhosa. Apesar de juizforana de nascimento, Ana Carolina tem uma forte ligação com a capital carioca, onde descobriu um novo talento: as telas que enfeitam o encarte de "Estampado" foram pintadas por ela e serviram de inspiração para as músicas do CD.

Entrevista  Por Fabiano Moreira

Generosa com os parceiros de trabalho, educada e divertida, Ana Carolina, 28, já começou a conversa querendo reconhecer o repórter dos velhos tempos de Juiz de Fora e, durante a entrevista à Tribuna, fez questão de colocar a cidade lá no alto. Ela não se esquece dos momentos que viveu aqui, quando tocava pela UFJF ou pelas ruas do Bairro Granbery, onde morava.

Hoje, no Central, a alegria da gravadora BMG promete momentos inesquecíveis para fãs e amigos, como na canção em que todos os músicos tocarão pandeiro, sua paixão, e no samba que ela compôs e que será acompanhado por isqueiros. "Fiz a música em dezembro, mas parece coisa antiga. Então, em vez da caixa de fósforos, vamos de isqueiro, sinal dos tempos modernos." Fogo e luz para a nova diva da MPB, já gravada até por Maria Bethânia.

Tribuna - "Estampado" é o seu trabalho mais intimista, com letras de tom confessional. Algumas destas histórias foram vividas em Juiz de Fora?
Ana Carolina - Eu passei muito mais tempo em Juiz de Fora do que em qualquer outro lugar do planeta. As minhas maiores experiências foram vividas em Juiz de Fora. Tem algumas coisas que realmente aconteceram comigo nos últimos tempos, aqui mesmo no Rio de Janeiro, algumas historinhas que estão sendo contadas aí no disco, mas, logicamente, tem uma coisa de vivência e de elaboração de personalidade mesmo, convívio com amigos de Juiz de Fora que eu trouxe.
E a Ana Carolina que andava de violão embaixo do braço para a Ana Carolina de hoje? Mudou muito?
Não. Eu mantenho todos os meus amigos de Juiz de Fora. Mas, hoje, eu sei coisas que obviamente eu não sabia no início de carreira. Nunca esquecerei o meu primeiro gosto pela música, que sempre foi a coisa mais importante para mim. Apesar de estar no mercado hoje e ser uma pessoa que vende DVD e disco, o meu objetivo é não perder justamente essa Ana que você via andar nas ruas. Tanto que no meu DVD tem um momento interessante onde eu faço um show no meio da rua, no Largo da Carioca, sem anúncio. Eu tocava muito ali na Rua Antônio Dias, onde morei. Se a pessoa estivesse passando, podia me ouvir. 

E a Ana compositora? Amadureceu? Esse disco tem mais composições suas que os anteriores.
Esse é o disco mais autoral, mas o segundo também já era muito. Não é todo mundo que lança discos com tantas faixas como eu, sempre faço 15, 13 serem minhas é como se quase todo o disco fosse meu, até porque as duas outras músicas são do Totonho Villeroy, meu irmão, meu parceiro querido. A música de trabalho da Preta Gil, "Sinais de fogo", eu fiz quando estava terminando de gravar esse disco. Ainda ficaram dez canções de fora, que pretendo gravar no próximo trabalho ou mostrar para algumas pessoas que acho que têm a ver.
Quem você gostaria de ouvir cantando Ana Carolina, depois de Maria Bethânia, que já deve ter sido um prazer para você?
Sei lá, não tem uma pessoa exatamente. Agora você me pegou. Eu preferia deixar por conta do destino isso aí. Tomara que não demore a acontecer, porque é um prazer muito grande você ver a sua música interpretada por uma pessoa que você admira. Até hoje, as mulheres que interpretaram músicas minhas, como a Bethânia e a Preta, eu gosto muito das gravações.
E as parcerias? Como acontece esse processo? Com quem você gosta mais de trabalhar?
O trabalho de composição está sempre acontecendo, independente do que eu estou fazendo para a minha carreira. Trabalho geralmente junto, olho no olho. Não gosto de mandar fax e essas coisas. Agora, comecei a fazer uma música inédita com Jorge Vercilo que nem botamos nome. 
E como foi trabalhar com a produção de Eumir Deodato, que já pôs o dedo em discos impecáveis de Björk e Elis Regina?
As maiores pessoas são as mais simples. É um cara muito bacana, fiquei honrada. A gente chegou a conversar muito pelo telefone, ele em Los Angeles. Foi de irrestrita colaboração, queria saber o que eu queria exatamente nas músicas e nos arranjos. 
E desta vez vai ter canja sua em algum bar da cidade?
Pois é, eu adoraria lembrar meus tempos de bar em Juiz de Fora. Na verdade, fiquei ensaiando 25 dias direto sem parar, hoje (quinta-feira) estou completamente sem voz, estou aqui fazendo uns exercícios e tomando alguns remedinhos para melhorar. 
Foi uma loucura aquela última canja no Bar du Gil, né?
(Gargalhadas) Muito bom, muito bom. Pois é, vamos ver se rola mais uma vez.

Fonte: Tribuna de  Minas

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