Ana Carolina: Amor e sexo em CD duplo de inéditas

No CD duplo Dois Quartos, 
Ana Carolina expõe sua 
sexualidade como nunca fizera antes


Ana Carolina é corajosa. Numa época em que as gravadoras evitam coletâneas ou discos ao vivo duplos, para não encarecer o produto – e, dessa forma, favorecer a pirataria – a cantora mineira lança o álbum Dois Quartos (Sony-BMG), CD duplo gravado em estúdio, contendo apenas material inédito.

A ousadia de Ana Carolina é maior que a de Maria Bethânia, que também está lançando dois CDs simultaneamente. Mas os discos da irmã de Caetano, Mar de Sophia e Pirata, são vendidos separadamente, o que facilita a vida do comprador, e pertencem a uma gravadora brasileira, Biscoito Fino, teoricamente menos preocupada com o retorno financeiro do que a multinacional à qual Ana Carolina está vinculada. Em lojas virtuais, Dois Quartos ultrapassa o valor de R$ 40, preço alto para a realidade brasileira.

Essa audácia de Ana Carolina encontra respaldo nos números. De acordo com a Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD), a cantora liderou o ranking de CDs vendidos em 2005, com a coletânea Perfil (Sony-BMG / Globo). Somando o projeto com Seu Jorge, Ana & Jorge – 11º DVD mais vendido no país em 2005, segundo a ABPD – Ana Carolina foi a única artista nacional a contabilizar mais de 1 milhão de cópias comercializadas no ano passado.

Lançar dois discos de uma vez também foi uma forma de Ana Carolina “se redimir” com seu público fiel, pois já se passaram três anos desde o último CD,Estampado.

Mas nem uma nem outra razão justificam tamanha quantidade de músicas. São 24 faixas, somando os dois “lados”, o que torna o álbum cansativo. Ana Carolina poderia, facilmente, ter condensado o repertório, concentrando-o em apenas um ótimo disco.
Dois quartos semelhantes
Como referência ao fato de ser um álbum duplo, Ana Carolina o dividiu em dois CDs teoricamente diferentes. O primeiro, intitulado “Quarto”, seria mais comercial, radiofônico, com o tipo de música a que o grande público está acostumado. O CD 2, “Quartinho”, seria um espaço para experimentações, músicas que não encontrariam espaço no dial e estariam reservadas ao fã mais fiel.

Mas essas supostas diferenças caem totalmente na prática. Ambos os CDs têm seus pontos altos, com músicas boas e potencial para fazer sucesso nas rádios, e momentos menos inspirados, até mesmo desnecessários.

É no CD 1, o “Quarto”, que está a primeira faixa de trabalho, Rosas, com arranjo pop-rock feito por Ana Carolina e Marcelo Sussekind e letra tola de Totonho Villeroy, que pode ser lida sob a ótica homossexual.

O assunto sexo, aliás, nunca foi tão explorado por Ana Carolina. Nas músicas Eu Comi a Madona e 1.100,00 (Nega Marrenta), do CD 1, e Homens e Mulheres, do CD 2, ela expõe sua sexualidade de forma aberta, sem rodeios. A lasciva Eu Comi a Madona ganhou uma versão remix no CD 2, lembrando o álbum Estampado, que trazia o bate-estaca Beat da Beata.

Apesar de tantas surpresas, a maior novidade de Dois Quartos está na voz de Ana Carolina, menos berrada que em CDs anteriores. Por isso mesmo, os melhores momentos do disco estão nas baladas românticas, algumas muito inspiradas.

No CD 1, os destaques vão para Um Edifício no Meio do Mundo, boa parceria de Ana Carolina com Jorge Vercilo, e Aqui, feita com o tradicional parceiro Totonho Villeroy. No CD 2, que abre espaço para arranjos de cordas grandiosos, as canções ficam ainda mais belas.

Doze violinistas participam da faixa Então Vá Se Perder. Já em Corredores é a letra de Ana Carolina, profunda e existencialista, que rouba a cena. Belas e ao mesmo tempo com alto potencial radiofônico, as músicas Carvão e Eu Não Paro são a maior prova de que os dois CDs não são tão diferentes assim.

No “Quartinho” de Ana Carolina há espaço para as instrumentais La Critique eSen.ti.mentos. A primeira conta com vocalizações feitas pelo africano Lokua Kanza e depoimentos de pessoas internadas em manicômios. No encarte do disco, ela define a música como “um exercício sobre as diferenças”. Esse também é o tema, com outro enfoque, de Tolerância, gravada no CD 1.

Ainda no “Quarto”, Ana Carolina extravasa sua veia crítica e ataca, com versos fortes, os erros e vícios da sociedade contemporânea, nas faixas Nada Te Faltará,O Cristo de Madeira e Notícias Populares.

Mas é cantando o amor que Ana Carolina se sai melhor. Se as várias baladas românticas de seus dois quartos estivessem reunidas em apenas um, seria mais fácil encontrá-las e custaria menos apreciar cada uma delas.


Fonte: Rádio Criciuma

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