Ana Carolina surgiu por entre uma cortina que cobria todo fundo do palco, feita de objetos/luzes cintilantes, como um céu de estrelas (não estava brega), vestida com seu costumeiro terno preto - o que dá ainda mais sobriedade e solenidade ao seu estilo - empunhando sua guitarra. Dando a entender que o destaque naquela noite seriam as canções, ela destilou as mais novas deste último CD. A platéia mostrou estar familiarizada com a produção recente, mas nada comparado ao coro nas mais antigas. A intenção era evocar de imediato o tom mais minimalista do novo álbum, mas não há como dar este clima, estando ela numa das maiores casas de show da cidade, e com uma platéia histérica. Aliás, tem sido assim na sua passagem por outras capitais.
Predominantemente feminino, Ana Carolina é ovacionada por seu público de uma maneira que nunca mais havia sido visto deste Marina Lima ou Cássia Eller. Com a diferença de não conseguir ser suave e sedutora como a primeira, muito menos escrachada e irreverente como a segunda. Ana é mais pesadona, densa, com sua voz grave e macia e seu rosto na maioria das vezes sem sorrisos. Depois de ter assumido a bissexualidade, Ana Carolina teve os olhares ainda mais atraídos para o novo show, pois que as músicas eram mais declaradamente lésbicas e, além disso, teria um certo vídeo com cenas de sadomasoquismo ilustrando uma das canções, justamente a que fala ter comido a Madona (assim, como um "n", não a Madonna megastar). Risível o tal filminho, com imagens toscas e antigas de mulheres se insinuando uma para as outras, que não chegam aos pés de uma cena entre casais que se curtem em plena novela das oito.
O show durou pouco mais de uma hora e meia, e Ana Carolina marcou território ao imprimir seu novo estilo, sem fazer tantas concessões ao passado. Não poderia deixar de cantar hits como Confesso, Nua,Encostar na tua e Pra rua me levar, esta última feita para Bethânia. É isso aí, que gravou com seu Jorge, canta sozinha ao piano. Talvez a mais tocante do seu repertório até hoje - apesar de já ter sido exaustivamente executada - Quem de nós dois - recebe um arranjo diferente, o que confunde o público, que atropela Ana Carolina e canta sem prestar atenção ao andamento reformulado. O intimismo e sofisticação dos arranjos talvez não tenham sido tão valorizados desta vez (quem sabe o próximo não seja num teatro), afinal para a platéia mais interessada, somente ela interessava.
Fonte: Diário de Pernambuco
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